1ª QUESTÃO:
Em seu diálogo A República, Platão descreve na célebre Alegoria da Caverna a situação de homens aprisionados desde a infância no fundo de uma caverna e de tal forma que só podem olhar para uma parede em frente sobre a qual se projetam as sombras de bonecos colocados atrás destes homens. Um destes homens se liberta, sai da caverna e aos poucos se acostuma com a luminosidade externa, começa a distinguir as coisas e por fim descobre o Sol como a fonte da luz. Ele se dá conta, então, da ilusão representada pelas sombras que ele e os outros tomavam como realidade. Exultante com sua descoberta, ele retorna à caverna para relatar sua experiência, que é assim narrada por Sócrates:
“Suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do Sol? E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam?”.
Platão parece estar descrevendo a situação do “filósofo” quando este pretende esclarecer os demais seres humanos sobre o que ele pensa ser a verdade.
A partir desta narrativa de Platão, discorra sobre qual o papel do “filósofo” no mundo contemporâneo.
GABARITO: Na alegoria da caverna, as idéias principais estão nas oposições: “mundo sensível” – “mundo inteligível”, “opinião” – “ciência”, “aparência” – “realidade” e outras análogas. O “filósofo” é representado por alguém que se liberta das “aparências” e tenta explicar a “realidade” para os outros, mas é hostilizado e ameaçado. O candidato poderá então discorrer sobre a condição ontemporânea do “filósofo” ou do “sábio” e de seus conflitos com os outros seres humanos.
2a QUESTÃO:
Na célebre pintura A Escola de Atenas, o artista renascentista italiano Rafael reuniu os principais nomes da filosofia grega, tendo ao centro do quadro as figuras de Platão e de Aristóteles. Na pintura, Platão aponta com sua mão para o alto e Aristóteles aponta para baixo. Deste modo, com estes gestos, Rafael estava ilustrando a distinção entre a filosofia de Platão e a filosofia de Aristóteles. Indique e discorra sobre a principal diferença entre a filosofia de Platão e a de Aristóteles.
Imagem da questão
GABARITO: Na pintura de Rafael, o gesto de Platão aponta para o “mundo ideal” e o de Aristóteles para o “mundo real”. A interpretação de Rafael é evidentemente esquemática. O candidato poderá expor suas próprias concepções sobre as diferenças entre Platão e Aristóteles.
3a QUESTÃO:
A Filosofia Medieval buscou a síntese entre a razão grega (a filosofia) e a religião cristã (a fé). Por isto, seu tema central foi a relação entre razão e fé. De acordo com Étienne Gilson, historiador da Filosofia Medieval, “Uma dupla condição domina o desenvolvimento da filosofia tomista: a distinção entre razão e fé, e a necessidade de sua concordância. Todo o domínio da filosofia pertence exclusivamente à razão; isso significa que a filosofia deve admitir apenas o que é acessível à luz natural e demonstrável apenas por seus recursos. A teologia baseia-se, ao contrário, na revelação, isto é, afinal de contas, na autoridade de Deus. Os artigos de fé são conhecimentos de origem sobrenatural, contidos em fórmulas cujo sentido não nos é inteiramente penetrável, mas que devemos aceitar como tais, muito embora não possamos compreendê-las. Portanto, um filósofo sempre argumenta procurando na razão os princípios de sua argumentação; um teólogo sempre argumenta buscando seus princípios primeiros na revelação”.
A partir da perspectiva apresentada discorra sobre a Filosofia Medieval.
GABARITO: A partir da polaridade “razão – fé” o candidato poderá discorrer sobre as relações entre “filosofia” e “teologia”, “razão” e “revelação” ou “natural” e “sobrenatural”, como idéias importantes no pensamento europeu medieval.
4a QUESTÃO
Descartes tinha plena consciência do seu papel inovador na filosofia e na ciência. No Discurso sobre o Método ele diz: “Percebi que era necessário, no curso de minha vida, destruir tudo integralmente e começar de novo, dos fundamentos, se era meu desejo estabelecer nas ciências qualquer coisa de permanente e com chances de durar”. Ele considerava que o coroamento da reconstrução da filosofia seria o mais perfeito e definitivo sistema moral. Mas, até que alcançasse o conhecimento completo de todas as ciências, era preciso contentar-se com o que ele denominou de “moral provisória”, que lhe permitisse ao menos se guiar em suas ações da vida quotidiana. A terceira regra desta “moral provisória” é:
“procurar sempre antes vencer a mim próprio do que à fortuna [ou destino], e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo; e, em geral, a de acostumar-me a crer que nada há que esteja inteiramente em nosso poder, exceto os nossos pensamentos, de sorte que, depois de termos feito o melhor possível no tocante às coisas que nos são exteriores, tudo em que deixamos de nos sair bem é, em relação a nós, absolutamente impossível. E só isso me parecia suficiente para impedir-me, no futuro, de desejar algo que eu não pudesse adquirir, e, assim, para me tornar contente”.
Comente esta concepção e discorra sobre seu significado no mundo contemporâneo.
GABARITO: O candidato poderá discorrer sobre o contraste entre uma “moral definitiva” e uma “moral provisória” e tentar abordar o provisório como uma das características da cultura contemporânea. Poderia, ainda, discorrer sobre a dupla alternativa ética de “mudar o mundo” ou “mudar a si próprio”.
5a QUESTÃO
O filósofo alemão Immanuel Kant, no século 18, assim define o “Esclarecimento” ou “Iluminismo”:
“O Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade pela qual ele mesmo é responsável. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu próprio entendimento sem a imposição de outrem. O próprio homem é responsável por sua menoridade quando a causa desta não for a falta de entendimento, mas a falta de decisão e coragem de conduzir-se sem a imposição de outrem. Tenha coragem para usar o seu próprio entendimento! Eis o lema do Esclarecimento”.
(Immanuel Kant, “Resposta à Pergunta: Que é ‘Esclarecimento’ ?”)
Com base no texto de Kant, comente a importância na vida de cada um de nós de “ter coragem para usar o seu próprio entendimento”.
GABARITO: Aproveitando a sugestão do texto de Kant, o candidato poderá discorrer sobre os desafios do “amadurecimento” do ser humano e sobre a coragem necessária para se pautar pelo próprio entendimento ou razão e deixar de obedecer cegamente às imposições de outrem.
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